A concentração multitarefa
Desde que a internet começou a ganhar força no final da década de 90, o senso comum estabeleceu que ser eficiente é ser multitarefa. A famosa geração Y (ou X ou Z cada hora muda, mas falo dos que nasceram após a rede) recebeu um carimbo como a geração que consegue fazer bem mil coisas ao mesmo tempo.
O termo multitarefa foi trazido do computador que é um sistema que aparentemente realiza várias funções ao mesmo tempo. O ponto é que o computador não é multitarefa, quem dirá nós. O computador não realiza várias tarefas ao mesmo tempo, sua capacidade é conseguir trocar de tarefas rapidamente mas sempre operando uma de cada vez. Conosco, a história não é diferente.
Pesquisas dizem que 60% dos brasileiros veem Tv mexendo no computador.
Claro que é possível fazer duas coisas ao mesmo tempo, especialmente se elas forem mecânicas. Entretanto, na pesquisa acima qual foi o grau de absorção do que estava passando na Tv? Ou do que se escrevia no computado?
Tarefas repetitivas são possíveis de executar sem precisar prestar muito atenção, por exemplo você consegue tranquilamente dirigir e escutar rádio ao mesmo tempo. Mas e se a estrada fosse repleta de obstáculos e no rádio uma pessoa começasse a fazer perguntas com cálculos matemáticos?
Pesquisas feitas por cientistas americanos provaram que a qualidade da condução do automóvel e das respostas matemáticas de quem tenta fazer essas duas coisas ao mesmo tempo se aproxima de uma pessoa embriagada.
Infelizmente, ser multi tarefa quando trata-se de tarefas complexas não é possível. Não dá para ler um livro enquanto se vê Tv ou escrever um bom texto enquanto se analisa a letra de uma música. E o perigo da nossa geração está justamente no fato de estarmos tão condicionados a fazer várias coisas ao mesmo tempo que quando precisamos nos concentrar para algo importante temos muita dificuldade. O condicionamento da dispersão está cada vez mais arraigado nos seres humanos e passamos a achar normal não conseguir parar 20 minutos para executar uma única tarefa. Parece que precisamos estar o tempo todo buscando algo a mais para fazer se não, não nos sentimos produtivos.
Para executar uma tarefa que dependa do seu talento e concentração, você terá que afastar as fontes de dispersão (celular, computador, Tv, barulhos etc) e manter o máximo da sua atenção naquilo que está executando naquele momento. Cada dia me convenço mais que a grande dificuldade para terminar projetos complexos não está na execução, mas em conseguir não ser interrompido (ou se interromper) enquanto faz as tarefas mais difíceis.
Se você começar a se isolar, nem que seja brevemente, das interrupções, terá dado um grande passo. No entanto, há um porém – não conseguimos nos manter focados numa coisa só por muito tempo. Cada pessoa, consegue manter a concentração durante um determinado tempo e você terá que descobrir qual é esse seu tempo. Pode ser 20min, meia hora, 45min, não sugiro que passe de uma hora. Eu costumo trabalhar com 45 minutos de concentração para 15 de dispersão.
A mente é como uma criança e se você quer que uma criança pare de perturbar não adianta gritar para ela calar a boca. Mais inteligente é oferecer um sorvete se ela conseguir 45minutos de quietude. A mente é dispersa por natureza e precisa desse tempo de distração para voltar ao foco com empenho. Negocie com ela deixando claro que nesses minutos o foco será numa única tarefa, mas depois ela poderá pensar em qualquer outra coisa.
Durante o tempo escolhido, se quiser terminar a tarefa com excelência, isole-se ao máximo das dispersões. Desligue o som e se puder ponha o celular no modo avião (o grupo do whatssapp não vai acabar porque você deixou de vê-lo por alguns minutos) e quando o tempo se esgotar, dê a mente todas as dispersões que ela desejar, mas também por um tempo determinado. Sugiro que esse tempo de dispersão ou de execução de outras tarefas mais simples não passe de 30% do tempo que você ficou concentrado.
Depois de estabelecer por quanto tempo irá se concentrar, respeite o acordo, e dê o que ela quiser. Caso contrário, da próxima vez que disser à criança para parar, mesmo que prometa um sorvete, ela não acreditará e não te deixará sossegado.
O que os exercícios de concentração e meditação do Yoga desenvolvem é a capacidade de você ir aumentando o tempo e a qualidade da concentração mental sempre treinando o foco para um único ponto que às vezes é a respiração em outras alguma parte do corpo ou alguma mentalização específica. Existe inclusive um conceito dentro do Yoga chamado ekagrata que se traduz por – único ponto e é o único ponto para o qual toda consciência deve convergir.
Com o treinamento, você vai aprendendo os truques que sua mente usa para gerar dispersões – monotonia, dores corporais, lembranças aparentemente urgentes e até boas ideias. Conhecendo internamente esses truques e treinando mais a meditação você irá conseguir gradualmente aumentar o tempo de foco e consequentemente executar com mais qualidade a única tarefa que deve fazer.
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