quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O que um praticante percebe num profundo estado meditativo?

O que um praticante percebe num profundo estado meditativo?

Muitas pessoas pensam em estados meditativos como uma viagem quase psicodélica onde revela-se toda a verdade existente no Universo.

Não acredito muito nessa linha, inclusive há o risco de algum dito “iluminado” vender a ideia de que somente ele teve acesso a esse estado e que só alcançará o estado iluminado quem seguir suas orientações.

Desde as primeiras escrituras que falaram de meditação (Rig Veda e Yoga-Sutra) relaciona-se estados meditativos com liberdade. Samadhi (um estado meditativo) conduz a kaivalya (libertação), logo um estado profundo de meditação deve conduzir a isso.

 

 

Que tipo de liberdade buscam os YogINs?

A liberdade buscada pelos YogINs é conseguir discernir nos comportamentos, o que vem do âmago (Purusha) e o que lhe foi imposto (vasana). 

 

A base filosófica dos Vedas e Yoga-Sutra (antigos textos hindus) é uma filosofia chamada Samkhya. O Samkhya acredita que a essência que existe dentro de nós (Purusha), ao entrar em contato com o mundo manifestado (Prakriti), se “infecta” (usando uma simplificação braba) e ao se infectar, não consegue se manifestar plenamente. É como um eclipse desse brilho interno pela vivência do dia a dia.

As interações com o meio, mantém o Purusha obstruído. É a atenção excessiva aos acontecimentos externos que gera a desconexão e consequentemente sensações desagradáveis. O Purusha, não conseguindo se manifestar, torna-se escravo do mundo manifestado.

O exercício de meditação se propõe a criar o ambiente ideal para auto observação. Claro que você pode fazer esse tipo de observação a qualquer momento em qualquer lugar. Vamos usar como exemplo de ambientes para a experiência contemplativa, o simples olhar para as estrelas. Podemos fazer isso de qualquer cidade, mas a experiência de olhar para o céu em São Paulo certamente não é a mesma de que dentro de um centro de observação planetária da NASA no deserto do Arizona.

A meditação ajuda o praticante a diminuir agitações (físicas, emocionais, mentais) que dificultam a auto observação. Se durante o exercício você continuar pensando nas mesmas coisas, lembrando as mesmas coisas e sentindo tudo igual, o Purusha continuará em seu estado e nenhuma mudança profunda será alcançada. A medida que o praticante consegue discernir melhor entre o que é realmente seu (essência) e o que é condicionamento imposto nas interações humanas, começa trabalhar para trazer o aprendizado da experiência para seu dia a dia.

Se durante a meditação você fica esperando esse estado de iluminação revelador que falamos no início, esquece, sua meditação será frustrante. Primeiro porque para meditar você não deve ficar esperando nada, seja um estado de consciência, um mensagem no celular ou outra interrupção do estado. Meditar está mais para observar uma exposição de Arte do que atravessar o Canal da Mancha a nado, cumprindo uma tarefa para obter um objetivo. Sua meditação também será decepcionante pois revelações intensas demais não possuem consistência. Uma pessoa que usa algum tipo de droga pode ter centenas de revelações durante sua viagem, mas será que conseguirá aplicar os insights em sua vida? Dificilmente! Então, o aprendizado com mais valor vindo da meditação é aquele que nos revela pequenos insights, pequenas revelações de nós mesmos que vão aos poucos reconstruindo a conexão com a essência.

Quando você está mais conectado, aprende mais sobre você mesmo e isso é o maior valor que o treinamento de meditação pode proporcionar, muito mais que um estado revelador e que só poucos iluminados alcançaram.

Medite para se observar, sem pretensões de paranormalidade. O estado meditativo é um estado natural, aprenda com ele. Construa seu EU no dia a dia, isso certamente o fará mais livre.

 

Se quiser ouvir um podcast tratando sobre esse mesmo assunto, clique abaixo.

 

 

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