segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A voz dos antepassados – Podcast #22

A voz dos antepassados – Podcast #22 – Reflexões de um YogIN Contemporâneo

A partir deste episódio, quem assistir os podcasts no aplicativo YogIN, conseguirá visualizar as cenas descritas no podcast.
Se você, ainda não baixou nosso app, pode fazê-lo clicando aqui.

 

 

Existe um ditado que diz  que:

” Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece.”

Acredito que isso também se estenda para filmes, livros, cursos e tudo aquilo que efetivamente gera crescimento pessoal.

Meu irmão já havia dito para eu ver o documentário, Santiago um dezena de vezes, desde que o filme de João Salles estreou em 2007. O tema sempre me atraiu, a história do culto mordomo da tradicional família Moreira Salles, mas até esses dias eu deixei de lado.

Depois de assisti-lo, tenho a sensação que se eu tivesse visto em qualquer outro momento da minha vida, esse filme não seria tão significativo. Eu teria deixado passar os dois principais pontos do filme.

  1. A importância da voz dos antepassados;

  2. As mudanças verdadeiras acontecem devagar.

 

Sobre a voz dos antepassados, na Isha Upanishad, há uma passagem assim:

“Assim ouvimos dos sábios antigos que nos fizeram ver.”

A revelação dentro da cultura védica que dá origem ao Yoga é uma revelação trazida pelos ancestrais, uma revelação que vem do passado. A revelação não vem de deus, vem de dhira, os sábios.

Segundo a tradição indiana, as vozes dos antepassados, aqueles que merecem ser lembrados, aqueles que vencem o tempo por sua sabedoria, esses são os dhiras. Os dhiras vivem dentro de nós e suas vozes são ouvidas por nós. São essas vozes dos antigos que nos fazem ver as coisas com mais clareza.

“Assim ouvimos dos sábios antigos que nos fizeram ver.”

 

A importância dos antepassados

  • Santiago trabalhava na antiga casa da família, no mesmo local que hoje é o Instituto Moreira Sales. Era um apaixonado pela história das famílias nobres de todo o mundo. Para ele, a casa da Gávea era  o Palácio Pitti de Florença. Copiava tudo o que encontrava sobre as dinastias mais importantes que já habitaram a terra. Sentia que com isso, mantinha essas pessoas vivas ao seu lado. Falo um pouco da importância do estudos de textos antigos no episódio #14 da série.
  • Sabia que essa sabedoria, depende de copistas, de intelectuais que mantenham a memórias dos antigos viva. Pessoas que tragam a vida a sabedoria daqueles que já se foram, mas que deixaram seus ensinamentos para o bom uso do resto da humanidade.
  • O caso de Francesca uma personagem que estava esquecida da história, foi resgatada por Dante. Se não fosse por ele, ela seria esquecida para sempre, mesmo tento vivido a mais linda história de amor.
  • Na transcrição dos textos, Santiago punha seus sentimentos e opiniões. Ouvia os antigos Nobres sabendo que eles o ajudariam a ver o mundo de uma forma melhor.

 

 

As mudanças acontecem devagar

  • No episódio #12 falo sobre os estados de Meditação e mostro como a expectativa de que, como num passe de mágica, tudo se revele é uma ilusão. Esperar por mudanças bruscas é dar espaços para ilusões. As mudanças que ficam, são aquelas que acontecem gradualmente, quase sem a gente perceber.

 

 

 

LINKS

 

Ouvindo o bobo da corte – Podcast #14

 

O que é vivenciado em um estado de meditação profunda – Podcast #12

 

  • Letra de Ode a Alegria ao final do 9ª Sinfonia de Beethoven

Ode À Alegria

Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!

Alegria, mais belo fulgor divino
Filha de Elíseo
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu
Todos os homens se irmanam
Onde pairar teu voo suave

A quem a boa sorte tenha favorecido
De ser amigo de um amigo
Quem já conquistou uma doce companheira
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma
Uma única em todo o mundo
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza
Todos os bons, todos os maus
Seguem seu rastro de rosas
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Alegres, como voam seus sóis
Através da esplêndida abóbada celeste
Sigam irmãos sua rota
Gozosos como o herói para a vitória

Alegria, mais belo fulgor divino
Filha de Elíseo
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Abracem-se milhões de seres!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos! Sobre a abóbada estrelada
Deve morar o Pai Amado
Vos prosternais, Multidões?
Mundo, pressentes ao Criador?
Buscais além da abóbada estrelada!
Sobre as estrelas Ele deve morar

 

 

 

 

 

Curso Yoga

 

Transcrição do Podcast #22

 

A Voz dos Antepassados – Podcast #22

Lembro-me que certo dia, meus pais disseram a Santiago que iam jantar fora, que ele podia fechar a casa e se recolher. Eu era menino, dormia cedo. Por volta da meia-noite eu acordei com uma música, percebi que alguém tocava o piano que ficava no salão no início dessa galeria que, agora me dou conta, deveria ter filmado a noite. Levantei-me na ponta dos pés, fui até lá, a casa estava escura, quando cheguei no salão, vi que era Santiago. Ele vestia o frack que usava nos dias de grandes festas, não me espantei com a música, não era raro ver Santiago ao piano, me espantei com o frack. Perguntei: Por que essa roupa Santiago? E ele me respondeu, apenas: Porque é Beethoven, meu filho.

Olá, o meu nome é Daniel De Nardi, e está começando o 22º episódio de “Reflexões de um YogIN Contemporâneo”. Nós acabamos de ouvir o início de um documentário chamado Santiago, em seguida a famosa “Ó de Alegria”, que é trecho cantado da 9º Sinfonia de Beethoven que já é conhecida pelo público em geral.

Uma novidade interessante é que quem já é aluno do YogIN App pode começar a ouvir os podcasts dentro do próprio aplicativo, e a partir deste episódio, quem ouvir no aplicativo, vai ter a vantagem de ver cenas que eu eventualmente citar (cenas de filmes, imagens e afins), quem assistir pelo aplicativo poderá ver todos esses detalhes. Quem quiser mais referências sobre o podcast, o post de cada episódio que fica hospedado no blog, sempre tem todas as fotos e links utilizados. Então, quem quiser aprofundar o conhecimento dos assuntos abordados no podcast, é só acessar o blog após a publicação.

Existe aquele ditado que diz que “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”, acredito que isso não é apenas no caso de um aprendizado na relação mestre/discípulo, mas que se estende para os momentos de construção pessoal que a gente na vida. A gente tem que estar pronto para quando um grande filme chegar na nossa vida, chega um momento que determinado filme representa para nós, o mesmo acontece com livros, com cursos…Ás vezes, a obra já é boa, mas o discípulo não está preparado. Se a obra é importante, mas você não tem as referências necessárias para entendê-la, ela irá passar despercebida. Não vai impactar tanto quanto poderia se você estivesse preparado para receber a mensagem.

Então Santiago ilustra bem isso. Desde de sua estreia, em 2007, o meu irmão falava para eu assistir, eu nem tinha visto o trailer, mas sabia qual era a história e ia adiantando até vê-lo agora, em 2017, dez anos após a sus estreia. Mas aí vem essa questão de preparação do discípulo, o filme, no meu entendimento tem duas bases, dois ensinamentos essenciais que não eram tão importantes pra mim em 2007 e hoje eles tem, de fato, uma relevância muito grande e eles são os pilares do filme. O primeiro, é a importância da voz dos antepassados, o quanto aquilo que já foi produzido em termos de conhecimento ao longo da história, o quanto é relevante nas nossas decisões atuai, então o ensinamento, o conhecimento não morrem, eles vão se perpetuando do passado para frete, e aquilo que for importante é guardado e é considerado nas nossas decisões; o segundo pilar desse filme, o segundo ensinamento brilhante que ele tem é que as mudanças verdadeiras acontecem de forma muito mais lenta, muito mais progressiva e adaptável do que uma mudança brusca que, de repente muda absolutamente tudo na vida. Sobre a voz dos antepassados, existe uma Upanishad que é bastante curta, apenas vinte e dois versos que é a Isha Upanishad.

Na Isha Upanishad, existe uma passagem que diz o seguinte: Assim ouvíamos dos sábio antigos que nos fizeram ver.

Esta frase mostra muito bem que a relação da cultura védica, que dá origem ao yoga, como a gente ouviu aqui em alguns podcasts é uma revelação trazida à pelos ancestrais. É uma revelação que vem do passado, não é a revelação de um deus, de algo inatingível. É a revelação de Diirah, que são os sábios da época. E, segundo a tradição indiana, essas vozes dos antepassados – aqueles que merecem ser lembrados, que deixaram uma mensagem importante para as pessoas, são pessoas que vencem o tempo, a sua sabedorias perdura ao longo dos tempos, e esses sábios são os Diirahs.

Esta tradição também acredita que as mensagens dos Diirahs está dentro de nós, e ela é ouvida por nós. São vozes dos antigos que nos fazem ver as coisas com mais clareza. “Assim ouvíamos dos sábios antigos que nos fizeram ver”. Então, a tradição acredita que é possível ver melhor quando se escuta a sabedoria dos antigos.

O filme mostra esse personagem que é único, um mordomo que trabalhava na casa da família Moreira Salles. Para quem não sabe os Moreira Salles são fundadores do banco Unibanco, é uma família tradicional no Brasil, não só em termos de acumulo de riqueza, como na geração de cultura. Eles começaram a patrocinar a FLIP, já patrocinaram muitos filmes, e existe o Instituto Moreira Salles que apoia eventos culturais ao longo do Brasil. No Rio de Janeiro, a cede do Instituto é a casa onde a família morava quando os filhos eram mais jovens, quando Santiago morava lá.

Santiago era um mordomo extremante culto, que tocava piano, já havia morado em diversos lugares do mundo. Um dos filhos da família, João, decide fazer um documentário sobre Santiago, que foi muito expressivo e tinha muitas histórias interessantes.

“Ele vivia só, cercado de seus livros, a história dos Médicis, biografia de Lucrécia Bórgia, e da obra de toda a sua vida. Trinta mil páginas transcritas em bibliotecas púbicas e particulares espalhadas em três continentes. No idioma do livro consultado, inglês, italiano, francês, espanhol e português”

O Santiago tinha essa fascinação por copiar e por registrar as informações das principais dinastias ao redor do mundo, ele considerava o conhecimento dessas famílias antigas muito importante a ponto de que devessem ser registrados e preservados. Falo um pouco sobre textos antigos no episódio 14 da série, que é o “Ouvindo o bobo da corte”, comento um pouco sobre Shakespeare e de a gente ter uma noção dos textos antigos porque eles refletem há muitos anos as mesmas dificuldades, os mesmos dramas, os mesmos conflitos que vivemos nos dias de hoje, é interessante ver que a humanidade evolui, mas que a gente continua passando pelas mesmas crises existenciais. Então agora a gente vais ouvir um trechinho falando sobre essa obra que o Santiago vem construindo:

“(…)Entre todas elas ajudaram a fazer a história universal.

– E você…
-Graças a história, devemos aos padres da Idade Média, que escreviam e copiavam todas as coisas e nós sabemos a história de toda essa gente.”

“A menção aos copistas não deve ter sido gratuita, Santiago se considerava um deles. Tinha razão. Ao morrer, ele me deixou seus papéis. Para fazer esse filme, selecionei centenas de páginas, fui para os nomes que me pareciam mais sonoros, filmei-os ao longo de três dias. A cada Arphaxad ou Slavomir a cada Panzythés ou Olof Hunger eu pensava em Santiago. O fato de que sem ele, pelo mens par a mim, essas pessoas não existiriam.”

Então o Santiago, assim como a Isha Upanishad sabia que a sabedoria vinha por meio dos antepassados e que eles o faziam ver melhor. Só que para que o conhecimento não fosse extinto, a dependência era dos copistas, pessoas que copiavam informações ou de pessoas que traziam informações dos antepassados à tona, que estavam praticamente esquecidas. Mas o trabalho do copista e também dos que debatiam, dos intelectuais é que acaba renascendo ou mantendo viva essa sabedoria antiga. O filme conta casos que, se não fossem pelos escritores, acabariam sendo esquecidos pela história, pelas pessoas.

Ele conta o caso de Francesca, que era uma mulher que conheceu João, o aleijado, que tinha um irmão muito bonito. Francesca cedeu as tentações e acabou se apaixonando por Paulo, o Belo, irmão de João. Quando eles se beijam, João vê e não aceita o caso dos dois e acaba enfiando uma faca que cravou os dois, mantendo-os sempre unidos naquele momento do beijo e para sempre, morrendo junto. Esta história aconteceu na antiguidade, havia sido perdido, mas Dante trouxe à tona quando escreveu “A Divina Comédia”, ele ressuscita a história de Francesca, a sabedoria dela, mantendo-a para eternidade.

“É uma das grandes histórias de amor da literatura, não existe praticamente nenhuma documentação sobre Francesca, foi Dante que a salvou do esquecimento, deu-lhe um nome, uma voz e um tormento. Talvez por isso Santiago gostasse tanto desta história.”

O Santiago deixa muito claro no filme essa relação que ele tinha com a voz dos antepassados, como aquilo era importante para ele a ponto de ele registrar as informações em mais de trinta mil páginas que ele guardava ao lado de sua cama. E, como ele vai contar aqui, ele considerava a sabedoria dessas pessoas vivas, porque ele conseguia, inclusive, conversar com elas, as levava para passear, deixava ao sol. Vamos ver como ele descreve isso.

“Santiago: São seis mil anos, são personagens maravilhosos. Não são cruéis, são santos de verdade que fizeram muito bem para a humanidade, por isso me pergunto o porquê morrem essa gente, eles que são bons não deveriam morrer(…)

João: Mas eles estão mortos?

Santiago: Sim, estão mortos. Para mim não estão mortos, porque a todo tempo eu converso com eles, sobretudo aos finais de semana, eu os ventilo um pouco ao sol, eles tomam ar, nada mais que isso. Apesar de tantas línguas, de tantos idiomas extintos eles me compreendem, e eu os adoro porque durante tantos anos eu escrevi dentro de mim e zelo ainda, sobretudo sobre as dinastias da Idade Média. Os grandes(…) [som de sinal de um relógio antigo] Aí está, este som, este relógio de mais de cem anos é da vida nos conserva vivos e frescos para ver, porque estas badaladas são da vida (…) eles dormem aos pés da minha cama. Repito: uma vez por semana eu converso com eles, os ventilo, levo-os para passear pelo apartamento, moro completamente só, mas não estou só porque estou rodeado dessa gente”

E agora o segundo pilar desse filme, à medida que a gente entende a importância dessa sabedoria antiga, a gente começa perceber que a sabedoria atual, ela nada mais é do que uma combinação e uma adaptação do que já foi registrado pro momento que a gente vive agora. Ninguém é capaz de criar um novo conhecimento do nada. Todo conhecimento é baseado nas experiências que já existem. Uma tecnologia disruptiva pode ser totalmente desnecessária porque os problemas estão aí, eles tem que ser resolvidos aos poucos assim como as mudanças. Ninguém se torna um gênio do dia para a noite, ninguém se torna um superatleta do dia para a noite. As mudanças verdadeiras que acontecem nas nossas vidas são estruturais e acontecem aos poucos. Elas vão sendo construídas dia após dia, num habito continuo que pode nos transformar em outra pessoa.  Você não vai mudar completamente o seu hábito alimentar na dieta da segunda-feira, tudo é um processo, uma mudança então, sutil que fica e é perene.

“Santiago sugeria que avia podia r lenta, mas não era suficientemente lenta. Ao longo dos cinco dias de filmagem ele não falou de outra coisa, eu não entendi, só muito mais tarde assisti ao filme predileto de Santiago. Se o mostro aqui é porque ele me ajudou a entender que algumas transformações da minha vida aconteceram sem que eu percebesse. No filme, Fred Astaire faz o papel de um dançarino de Vaudeville e Cyd Charisse o de uma bailarina clássica. Os dois são convidados para estrelar a mesma peça e, claro, não se dão bem. E quando tudo parece perdido, Astaire convida Charisse para um passeio no parque, meio sem jeito, eles caminham lado a lado. Não se falam nem se olham e, então, acontece uma coisa linda e gratuita.

Já assisti a essa cena algumas vezes, sempre achei bonita a transição entre a caminhada e a dança, é uma transformação sutil e sem alarde”

Como o filme fala no início “Porque é Beethoven, meu filho. Não sei se eu contaria a história de Beethoven num filme de 1992, talvez sim, mas somente por achar que ela dizia a respeito apenas a Santiago. Hoje sei que ela também é sobre mim, sobre uma certa noção de respeito que era dele e que, talvez, ele quisesse me ensinar”.

A gente vai manter aí a chama de um dos maiores gênios da música que é Beethoven, vamos deixar com uma das músicas mais lindas que já foi parcialmente tocada no início. Não vou deixar toda a 9º Sinfonia, embora você possa ouvi-la na nossa playlist do podcast no Spotify. Vou deixar o link para quem quiser consultar, mas fica aqui, com vocês a 9ª Sinfonia de Beethoven em homenagem a Santiago.    

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